sábado, 1 de junho de 2019

Tagliatelle com Espargos, Courgette e Gambão

Vivemos numa época louca. Numa sociedade cada vez mais conectada onde parece não haver espaço, vontade, tolerância ou educação para perceber os limites do ridículo (nosso e dos outros). Para perceber sequer o que é certo e o que é errado, o que se pode, deve ou não pode e não deve. Ou ainda que os nossos direitos pessoais terminam onde os dos outros começam.

Não nos podemos enganar, cair com estrondo no chão, enfiar um pé num monte de porcaria, ter um break down em público, pisar uma pastilha elástica e depois papel higiénico e sair com aquilo a arrastar pelo chão sem saber (and so on), que o risco de haver alguém (que podemos ou não conhecer) pronto a filmar ou a fotografar esse nosso momento de miséria e a "postá-lo" nas redes sociais é enormíssimo. E se aquilo "viralizar" então... Caramba! Como se gere a exposição ao ridículo de forma massificada? Não é isso também uma forma de bullying

Perdemos a noção do foro privado e do foro público, em relação a nós mesmos e em relação aos outros. O que devemos e não devemos partilhar, seja por segurança pessoal, por decoro ou respeito pelo direito à privacidade, nossa e dos outros. Por exemplo, se há coisa que me irrita profundamente é estar num local público e que um estranho no mesmo local se lembre de fazer um vídeo panorâmico para "mostrar" a terceiros onde está e me filme a mim ou a familiares meus sem qualquer respeito pelo meu/nosso direito de não querer ser filmado ou de ver a minha/nossa imagem partilhada nas redes sociais alheias. É que a constituição portuguesa, no artigo 26º, alínea 1, ainda mantém o direito a todos os cidadãos portugueses à manutenção da sua "...imagem, (...) e à reserva da intimidade da vida privada e familiar...".

As pessoas estão cada vez mais críticas e intolerantes com os outros, mais mal educadas (pedir licença, dizer obrigada e desculpe caiu em desuso) e arrisco ainda que as redes sociais vieram incentivar a inveja, a comparação desnecessária entre nós e os outros, a infelicidade por não se ter já ou por não se poder fazer agora... A bondade e a compaixão pelo outro estão, tal como a fauna e a flora do planeta Terra, em vias de extinção. E se a este cenário juntarmos duas "pitadas" de alto potencial para o caos, as alterações climáticas e a progressiva escassez dos recursos naturais do planeta, ficamos a um "fio de cabelo" de nos matar uns aos outros por um palito. Dá que pensar, não dá? 

Quando estou a cozinhar durante a semana gosto de ligar a televisão para ver canais de notícias. Consumo muito pouca televisão e o aparelho só se liga cá em casa a partir da hora de preparar o jantar. E é de ficar de cabelos em pé com o número de casos de violência doméstica e de homicídios passionais que dispararam de forma alarmante; com o aumento do número de casos de "calotes" ao estado português (e que acabamos todos a pagar) ou de casos de corrupção e crimes de colarinho branco; com as novas e criativas formas de cobrança coerciva de impostos (mas só para o cidadão comum, que os que devem milhares de milhões parecem continuar a ser tratados, mesmo após a descoberta do "calote", com brandura e condescendência); com o número abismal de adultos que continuam a mandar o seu direito pessoal e dever cívico de votar para as urtigas e preferem ir à praia, ao campo, ao centro comercial ou a qualquer outro lugar que não às mesas de voto... E isto só por cá, que o resto do mundo anda igualmente assustador. E todas as noites esta pessoa pensa que talvez seja melhor fazer o jantar sem televisão para não haver "dêprês"...

No final de um destes dias mais frescos, sem tempo e sem vontade para receitas demoradas (mas com apetite, que a fruta e os frutos secos do lanche "já eram"), e a ouvir o destaque das notícias (depressivas) do dia na TV, senti necessidade urgente de alguma comida de conforto. Havia espargos e courgette no frio, uma embalagem de gambão no congelador, um pacote de natas e outro de tagliatelle na despensa e uma cozinheira a precisar de consolo. Desliguei a televisão, liguei o rádio (que só costumo ouvir no carro) e pus mãos à obra. Dancei enquanto cozinhei, ri-me imenso sozinha enquanto cantava algumas músicas a que só conhecia (e mal) o refrão, esqueci as notícias depressivas e 20 minutos depois estava a comer. Conclusão? Esta receita é estupidamente gulosa e rápida de preparar, a Terra vai continuar a girar com o Homem ou sem ele e a verdade de Gandhi irá manter-se para mim, hoje e sempre, tão certa quanto inspiradora: "Seja a mudança que quer ver no mundo".







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Nº Pessoas: 2 a 3
Tempo Prep.:  20 m.
Dificuldade: * (Fácil)
Ingr. Principal: Vários
Vegetariano: Não
Para Crianças: Sim
Tipo Prato: Principal
Festividade: N/A
Cozinha: De Autor

Ingredientes:   
- 300 gr de miolo de Gambão congelado (e sem casca)
- 6 a 8 Espargos Verdes lavados
- 1 Courgette biológica de tamanho médio
- Azeite q.b.
- 3 dentes de Alho esmagados com casca
- Tempero 1 desta receita q.b.
- 1 lt de Água fervente
- Tagliatelle q.b.
- 1 Pacote (200 ml) de Natas Culinárias Parmalat Zero Lactose
- Pimenta preta acabada de moer q.b.

Também vai precisar de:
- Tábua de corte + faca
- Descascador de legumes
- 1 Frigideira antiaderente grande
- Panela pequena/média
- Fervedor eléctrico
- Tenazes de cozinha
- 1 Prato de sopa
- Colher de pau 
- Escumadeira asiática
- 1 Chávena de café vazia

Preparação:
Lave e seque bem os espargos e a courgette.  De seguida, corte os espargos em pedaços com cerca de 2 cm (reserve no final) e depois corte com o descascador de legumes tiras alternadas de casca da courgette. Com a faca corte longitudinalmente a courgette e cada metade obtida em semicírculos de cerca de 2 cm. Reserve.

Numa frigideira antiaderente coloque um fio de azeite q.b. e 3 dentes de alho esmagados, deixando cozinhar em lume médio. Assim que os alhos comecem a cozinhar no azeite bem quente, adicione duas pitadas do tempero sem sal 1 desta receita. Adicione o miolo do gambão, mais duas pitadas de tempero sem sal e deixe cozinhar em lume médio/alto. Vire-os com alguma frequência para que cozinhem uniformemente.
Neste momento, coloque água fervente até ao máximo da capacidade de uma panela pequena/média, um fio de azeite e uma pitada do mesmo tempero e deixe ferver abundantemente em lume médio. 
Se usar o miolo de gambão ainda congelado verá que cada peça pode ter tempos diferentes de cozedura, desta forma, assim que cada gambão comece a ficar opaco (branco) de cada lado, retire-o para um prato fundo e reserve.

Adicione a massa à água fervente e deixe cozinhar de acordo com as indicações da embalagem.* Mexa com uma colher de pau, de modo a que a massa não cole ao fundo da panela.

* Nota: Como a massa ainda irá cozinhar mais uns minutos nas natas, se a embalagem indicar, p.ex., 10 minutos de cozedura, deixe cozer apenas por 8, de modo a que a massa se mantenha al dente na altura de servir.

Adicione ao azeite quente da frigideira os espargos, a courgette e mais duas pitadas de tempero aos legumes. Enquanto os legumes cozinham (até que se apresentem firmes mas tenros no interior, use um garfo para verificar), corte cada gambão longitudinalmente de modo a "duplicar" a quantidade de marisco.
Terminado o tempo de cozedura dos legumes, retire-os para o prato fundo onde reservou o gambão cortado.

À frigideira adicione as natas e mais uma pitada de tempero sem sal, mexa e deixe cozinhar em lume brando até que as natas cozinhem. Junte 1 chávena de café de água de cozedura da massa e mexa.
Por esta altura a massa deverá ter terminado a cozedura: usando uma escumadeira asiática transfira a massa para a frigideira, envolva tudo com a ajuda de tenazes ou de uma espátula e de uma colher, adicione o gambão e os legumes, envolva e adicione mais 1 ou 2 chávenas de café de água de cozedura e envolva tudo até obter uma massa cremosa q.b.. Sirva de imediato, bem quente, tempere no prato com pimenta preta acabada de moer a gosto e...


Bom Apetite!


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